A reflexão kantiana frente à moralidade

Immanuel Kant, em sua obra Crítica da Razão Pura analisa as formas de se obter conhecimento, sendo a priori ou originado da experiência. Tendo suas bases tanto no racionalismo, introduzido por Descartes, quanto no Empirismo, de Locke, Berkeley e Hume, Kant desenvolve a ideia do idealismo transcendental. Ao considerar a possibilidade de um conhecimento a priori ele rompe com o empirismo, corrente esta que acreditava que todo, ou ao menos a maior parte, do conhecimento era originado nas experiências sensoriais. A corrente racionalista prioriza o raciocínio lógico e a razão para que se possa chegar à Verdade, admitindo também que certas coisas não poderiam ser demonstradas empiricamente.

Enquanto Descartes dizia que devemos duvidar de todo conhecimento, exceto da existência, Berkeley acreditava que o conhecimento é possível e se origina nas experiências da consciência humana. A partir destas correntes, o idealismo transcendental admitiu que o conhecimento se origina de ambos, sendo em parte a priori e em parte experimental, sendo, de certa forma, uma união das correntes anteriores.

Kant faz forte crítica aos empiristas como Hume, pois acreditavam que a ciência só voltara a se desenvolver após o desenvolvimento do empirismo, quando diziam ter começado as experiências. Sua crítica vai no sentido de esclarecer que mesmo antes do advento do pensamento empirista britânico, no século XVII, já realizavam observações detalhadas e cuidadosas. A diferença é que essa nova corrente teria trazido consigo um novo método científico, no qual, para Hume o indivíduo apresenta um papel de passividade, enquanto para Kant assume uma posição ativa.

Volta a discordar de Hume no que concerne à lei de causalidade, ou causa e efeito. Enquanto para este seria apenas uma criação da imaginação humana devido à um hábito, aquele defende que seriam relações necessárias para os pensamentos sintéticos. Considera inclusive que as noções de causalidade são um conceito a priori, sendo também característica do mundo fenomenal, ou seja, o mundo que experimentamos.

Apesar da crítica dirigida à Hume e seu pensamento empírico, Kant agradece-o devido à sua crítica à metafísica, o que teria feito Kant “despertar do sono dogmático” em que se encontrava. Com o despertar, o autor muda sua visão da filosofia, questionando se é realmente possível colocar a metafísica enquanto ciência e em quais condições, passando então a fazer a crítica da razão, que terá como resultado a publicação das obras Crítica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática e Crítica da Faculdade de Julgar.

Na primeira das obras realiza a análise sobre os limites da razão no que se refere ao conhecimento a priori. Nesta, divide os tipos de juízo entre os analíticos e os sintéticos, sendo que apenas os últimos realmente seriam fontes de conhecimento, e que precisam ser juízos necessários, universais, verdadeiros e a priori, ou seja, devem independer da experiência. Kant ressalta que apenas esses conhecimentos poderiam ser considerados puros, o que veio a resultar no nome da obra em questão, na qual expõe que tais conhecimentos só seriam originados com a razão pura.

A metafísica para Kant só é possível se os juízos sintéticos a priori forem realmente executáveis, o que Hume negaria, já que para os empiristas todo o conhecimento provém da experiência dos sentidos e nada é a priori. É importante diferenciar os tipos de juízos assumidos por Kant. A principal diferença entre os sintéticos e os analíticos é que os últimos não acrescentam novas informações ao sujeito, como por exemplo dizer que um quadrado possui quatro lados; tal qual já contém naturalmente esta característica como fato, não acrescentando nada novo. Em oposição, os sintéticos inserem informações que não estão previamente contidas no sujeito, como por exemplo ao dizer que um banco é preto, de plástico e possui quatro pernas.

Entretanto, Kant afirma a possibilidade de os juízos sintéticos serem a priori ou a posteriori. Os a posteriori são aqueles que, apesar de adicionar algo ao sujeito, referem-se à uma situação particular, específica, como no exemplo do banco preto. Enquanto o a priori adiciona algo que, além de novo, é universal e foi formado unicamente por intuição intelectual, como dizer que a soma de 2 e 2 totalizam 4.

Podemos dizer que com as reflexões realizadas em suas várias obras, mas principalmente nas Críticas e na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Immanuel Kant pensa sobre a natureza do conhecimento e as possibilidades do saber. Desta forma contribui de forma decisiva para a epistemologia e apresenta, como no nome de outra obra sua, os Prolegômenos a Toda Metafísica Futura que Queira Apresentar-se como Ciência. Assim, tornou-se um ícone nessa área da filosofia, sendo considerado por muitos que, quando se pensa um desses assuntos seja possível concordar ou discordar deste autor, mas é impossível realizar tal filosofia sem o mesmo.

Continua…